Sobre a série Dadaism#… e sobre o Dadaism#4 + traduções


[2018.11.14] dadaism#4



1. (hotaru)
2. 部屋とブラジャーと私 (heya to BURAJA to watashi)
3. トゥルリラ (TOURURIRA)
4. カリスマロックスターは売れないぜ!(KARUSUMA ROKKUSUTA wa urenai ze!)
5. キスをしよう(KISU wo shiyou)
6. A PLAIN
7. 狼少年と毒林檎 (ookami shounen to doku ringo)

Antes de começar a falar sobre o Dadaism#4, vamos voltar um pouco no tempo e nos contextualizar um pouco sobre o que é a série de lançamentos Dadaism#... e sobre o que é o DADAROMA.

Desde o surgimento da banda, em 2014, DADAROMA vem lançando 1 miniálbum por ano, intitulados em série como Dadaism#1, Dadaism#2, Dadaism#3 e esse ano, no mês de aniversário da banda, eles lançaram o 4º miniálbum da série, Dadaism#4, com seis músicas inéditas no tipo A, e uma faixa bônus com a versão em piano de "ookami shounen to doku ringo (狼少年と毒林檎)" no tipo B.

Antes de mais nada, pra entender DADAROMA é preciso entender que eles não tem uma proposta específica, Yoshiatsu (vocal) já disse em entrevista algumas vezes que DADAROMA é simplesmente uma forma de expressão, e que o conteúdo das músicas varia de acordo com o que eles estão sentindo no momento, ou seja, eles não tem o objetivo de ser X ou Y, eles só querem fazer o que der vontade na hora.

Yoshiatsu: Eu sugeri o nome. “Dadaísmo” é conhecido por unir partes não relacionadas em uma coisa só. Como na nossa música. Nós criamos uma coisa sólida de várias partes diferentes entre si. Mas por outro lado não há ligação direta com isso. […] Toda a série de miniálbuns “Dadaism” não é apenas de CDs, sempre é uma forma de expressão do que queremos dizer, ou do que queremos fazer. Esse é o conceito. É por isso que todos os nossos trabalhos são a essência dos nossos pensamentos e do que queremos expressar.
[trecho da entrevista sobre o Dadaism#3 pra jame-world, 2017]

Tendo isso em vista, qualquer análise do trabalho deles só pode ser subjetiva e muitas vezes superficial, particularmente, enquanto tradutora, eu analiso os temas e construções das letras, e espero que fique claro que a minha análise é apenas uma entre muitas possíveis.

Antes de entrar no Dadaism#4 de cabeça, vamos falar um pouco sobre os outros Dadaism#…:

Dadaism#1 foi o primeiro da série e foi lançado poucos meses após o debut da banda, pela construção do CD já dá pra notar músicas bem pessoais e músicas mais generalistas, a pérola desse miniálbum sem dúvidas é "'Oboreru Sakana' (「溺れる魚」) que, apesar de o tema ter sido espremido até o bagaço pelo gênero rock mais próximo do metalcore no visual kei, tem metáforas muito bem estruturadas e um teor pessoal que faz qualquer um se identificar com a letra. Dadaism#1 tem 7 faixas, sendo que a primeira é um SE (sound effect) usado no clipe de "'Oboreru Sakana' (「溺れる魚」). Fazendo uma divisão simples, são 3 músicas que criticam a sociedade como um todo (“Oboreru Sakana” (「溺れる魚」), MONEY e BELKA to STRELKA) e 3 músicas direcionadas a criticar relacionamentos românticos (MORPHINE#1 e #2 e SEX).

Vale ressaltar que, levando em consideração que esse foi o primeiro miniálbum da banda, esse é um lançamento muito sólido e estruturado, com uma presença que a muitas das bandas levaram um bom tempo pra conquistar.

Uma curiosidade sobre a série de músicas Morphine#… (ou não), é que muito provavelmente a critica que o Yoshiatsu faz nessas letras é sobre ele mesmo, ele deu uma entrevista pra revista Rock and Read (vol. 63) em 2015, onde ele fala um pouco sobre ter uma tendência egoísta nos relacionamentos dele.

Yoshiatsu: Simplificando, provavelmente minhas histórias de amor até agora, eu acho. Porque eu sou realmente egoísta... (risos). Colocando em termos bastante infantis, eu sou do tipo de restringir alguém muito[possessivo]. E por causa disso, os relacionamentos acabam se rompendo. Quando eu penso sobre porque eu faço as coisas que eu faço, eu imagino que seja porque eu não confio realmente nos outros. Daí eu mudei de marcha para parar de restringir as pessoas, e em vez de dizer coisas teimosas, eu decidi confiar mais nas pessoas. E é assim que as coisas se tornam como são agora.
[trecho da entrevista do Yoshiatsu pra rock and read vol. 63, 2015]

No Dadaism#2 nota-se uma estrutura muito similar ao #1, não houve grandes mudanças estruturais até aqui, apenas o rápido amadurecimento com relação a densidade das letras, não é difícil encontrar pessoas que acreditam que Lucid Dream foi o auge da banda, e que será muito difícil pro DADAROMA lançar algo tão bom quanto isso [que pra mim é uma opinião muito discutível]. O fato é que a disposição das músicas no CD é muito agradável aos ouvidos, começando com High and Low, primeira faixa densa do miniálbum, seguindo com Morphine#3, e abrandando-se aos poucos com as três faixas seguintes, acabando com chave de ouro na solidez de Lucid Dream, sem perder em momento algum toda a revolta característica da banda.

Desejamos confrontar os ideais e ideologias que
nos manipulam, tocando o nosso som.
Nossos sonhos, nosso futuro, e até mesmo nossos genitais são roubados,
e os fragmentos dos nossos sonhos infantis apodrecem.

Dadaism#2 tal qual o Dadaism#1 tem em si muita revolta, uma sede de revolução que está numa linha muito tênue entre criticas reais e o adolescentismo, que é o que mais se vê dividindo opiniões internet afora. As letras num geral tem construções parecidas, e, levando em conta a idade e o histórico dos músicos, tudo se mostrava absolutamente promissor, com críticas relevantes e metáforas instigantes.

Agora, a partir daqui nós temos um pequeno divisor de águas. Dadaism#3 deixou muita gente confusa, DADAROMA sempre teve um apelo sexual mas foi aqui, com o lançamento do MV de MASTURBATION como faixa principal do álbum, que muita gente ficou mais confusa que o John Travolta em Pulp Fiction. Dadaism#3 vem com uma outra faceta dos meninos do DADAROMA, uma faceta um pouco mais industrial, por assim dizer, vejam que os temas das músicas ainda são os mesmos, mas as letras e as melodias são mais simples, o que pode ter sido um baque muito decepcionante pra quem os acompanhava de perto e estava curtindo o rumo um pouco mais pesado que a banda estava tomando, eles tinham acabado de lançar zouka to KALASHNIKOV (造花とカラシニコフ) que é um single que está pau a pau com LUCID DREAM e “Oboreru Sakana” (「溺れる魚」), em nível de letras, profundidade e arranjos (dadas as proporções de quando essas músicas foram lançadas, e o nível de amadurecimento do período em questão).

Faixas como NPD e Watashi, Bangya janai wa (私、バンギャじゃないわ) fizeram muita gente que já estava chateada com o yume TARAREBA (夢タラレバ) ficar ainda mais decepcionada com a banda, principalmente porque muita gente sequer entendeu sobre o que se tratavam essas músicas e por terem ritmos mais POP logo foram jogadas na latrina da reprovação.

Apesar de tudo isso, no Dadaism#3 temos uma faixa muito injustiçada: "ookami shounen to doku ringo (狼少年と毒林檎)" (que foi relançada em nova versão no Dadaism#4), consegue, no meio de toda a erotização e da industrialização que cerca o Dadaism#3 puxar o ouvinte do DADAROMA de volta para o debut da banda com exatamente a mesma construção de metáforas e profundidade que se deu em “Oboreru Sakana” (「溺れる魚」).

Sem percebermos a tragédia se tornou a diversão da sociedade
Notícias cruéis sobre o mundo parecem divertidas
O garoto se torna homem, e seu livro vende rapidamente.
[enquanto ele está] perdido nas sombras sobre uma poça de lágrimas,

Finalmente, Dadaism#4 vem logo depois de lançamentos turbulentos como This is “live” e boku wa ANDROID (僕はアンドロイド) que deram uma boa dividida no fandom por terem seguido pela mesma linha mais simplista e popular do Dadaism#3, investindo mais em letras simples e refrões contagiantes. O que vemos aqui no dadaism#4 é basicamente um resumo do que aconteceu nos lançamentos anteriores. Temos músicas com apelo sexual, músicas mais densas e músicas com um refrão mais marcante, no Dadaism#4 eles usaram toda a bagagem que acumularam dos lançamentos anteriores numa coisa só, fazendo nada mais nada menos o que o que já era esperado dos meninos do DADAROMA.

A progressão é simples, (hotaru) começa o CD dizendo a que veio, convidando o ouvinte a parar com discussões inúteis e viver uma breve aventura observando a beleza dos vaga-lumes com sua pessoa amada. Depois, 部屋とブラジャーと私 (heya to BURAJA to watashi), que particularmente me lembra bastante 赤いワンピース (Akai One Piece) do the GazettE, não que elas tenham alguma semelhança além do tema e da forma de uso do eu lírico. Essa é uma música que em uma olhada superficial parece aquele velho lance de pornô musical, mas vai um pouco além, tal como Akai One piece do the GazettE, é sobre uma pessoa que se sente vazia em seu estilo de vida hedonista mas mesmo assim não abre mão dele. Uma pessoa que está presa na sua própria vaidade, causando sofrimento a si mesma.

Num primeiro momento, achei a escolha de トゥルリラ (TOURURIRA) como faixa principal desse miniálbum equivocada, porém, depois de dar uma boa olhada na letra eu entendi o motivo. トゥルリラ (TOURURIRA) aprofunda o convite de (hotaru), de uma forma que pode até parecer bastante pessimista pelo fato eles repetirem muito a fala de que “as coisas não fazem sentindo” mas é muito esperançosa se olharmos por outro viés. トゥルリラ (TOURURIRA) convida o ouvinte a aceitar que as coisas não precisam fazer sentido pra serem boas, e diz que basta ouvir a musicalidade da própria natureza para perceber isso, essa música nos convida a priorizar a relevância que impomos às coisas que acontecem em nossas vidas, porque se formos comparar com a magnitude da natureza ou com a grande orquestra dos sons da chuva, tudo vai parecer menor, então, que dancemos nesse grande caos que chamamos de vida!

“’em relação as leis da natureza, as pessoas são impotentes e pequeninas,
as pessoas nascem pra se dedicar a essas graças e não tem escolha senão morrer,
coisas como rir e chorar não tem sentido e não tem valor’
tururitururira cante e dance nessa vida impotente tururirara”
カリスマロックスターは売れないぜ!(KARUSUMA ROKKUSUTA wa urenai ze!), ou “o carisma de uma estrela do rock não pode ser vendido!” é uma daquelas músicas bobas que no fundo mais parecem indiretas pra alguém, acho que o título já deixa bem claro qual é o seu tema.

A quinta faixa desse miniálbum, キスをしよう(KISU wo shiyou) me parece estar dentro desse mesmo tema das “futilidades” a serem deixadas de lado. Apesar de logo de cara eu achar que ela era mais sobre politica do que sobre qualquer outra coisa e que faça sentido que ela não tenha um tema conectado às demais músicas do CD, eu acho que ela se liga sim a alguns aspectos desse tema.

キスをしよう(KISU wo shiyou) do jeito que está disposta no CD, seguida de A PLAIN e ookami shounen to doku ringo (狼少年と毒林檎) parece dizer que, não importa o quanto a gente discuta sobre catástrofes, politicas e questões mundanas quaisquer que sejam, não podemos nos esquecer de estar ao lado da nossa pessoa amada, e que por pior que o mundo seja, rindo e chorando de desastres tudo só valerá a pena se, no final, tivermos alguém importante pra ficar de mãos dadas e trocar uma saliva.

hey, vamos nos beijar
até a noite, esse mundo vai acabar
então você e eu poderemos ficar de mãos dadas até dormir”

A PLAIN me pareceu um bom jeito de finalizar o CD, pra concluir toda a série de calamidades abordadas nesse miniálbum, os meninos do DADAROMA passam seu recado: a vida não é só sobre diversão nem só sobre tristeza, é sobre ser quem você é, mesmo que as pessoas te odeiem por isso.

Uma coisa inédita na série Dadaism#.. que acontece em Dadaism#4 é que dá pra tirar uma moral desse CD, e a moral que eu tiro do Dadaism#4 é que pouco importam as nossas questões mundanas, vamos viver como as crianças, os adultos fazem guerras e promovem discussões que, em essência, sequer são realmente importantes, vamos apreciar os vaga-lumes, e os momentos com as pessoas que amamos, vamos cantar e dançar mesmo que as pessoas riam de nós por isso, não vamos usar um título como desculpa pra sermos pessoas ruins nem nos apegar as nossas vaidades, vamos simplesmente ser quem realmente somos.

... Continua?