Vinushka¹
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kumo
to kawasu kokyuu wo tomete
As
nuvens se cruzam, pare de respirar
aa
tada moumoku no kara
ah,
só uma concha cega
koko
ga soko ka? kageri ni mi wo yakare
Aqui
é o fundo? Queimando na obscuridade ²
aa
tada wasurete itai
ah,
só quero esquecer
ari
no su e to yoku wo suberase
Deixe
a ganância escapar dentro do formigueiro
saa
ima umare kawareba ii
Venha,
agora é só renascer
ashita
wo nemurasete furimuku yasuragi
A
paz vira-se para olhar o amanhã que dorme
surudoku
togaru kanjou ni mi wo makasete
entregando-se
para uma emoção que se torna afiada
uneru
nagare sae ikiteru akashi to
Convidando
o amanhã para entregar-se às lágrimas
namida
ni fukeru ashita wo sasou (↑↓)
e
testemunhar que até mesmo esse fluxo sinuoso está vivo
uetsuku
DOGURA, MAGURA
A
insinuação de Dogra Magra³,
hadara
no itami to yuiitsu no jinkaku
os
pontos de dor, a personalidade única
irotoridori
ni kazaritsukerareta hitomi mo, mou iranai
e
aqueles olhos decorados multicoloridos, não são mais necessários.
mata
gizen ga tsuresatte iku no ka?
A
hipocrisia vai vir novamente e levá-los?
hitori
kiri no makka na yoru butai
Aqui
está a verdade
wakiagaru
tateyakusha ni sasageru (↑↓)
[em]
um palco, numa noite vermelha e solitária
koko
ga shinjitsu da (↑↓)
dedicada
ao protagonista que ascende.
gomakasenai
kokoro no katasumi ni wa “mada koko ni itai“
Em
algum canto do coração “ainda quero estar aqui”
yurusenai
no wa dare?
quem
não perdoaria?
hieta
koe wo hibikase chigau
Um
juramento, que ressoa de uma voz fria
gou
to ayumu tenchi saketa ware kono mi to sakebu
Viverei
com meu carma, gritarei com esse meu corpo que separa o céu da terra
batsu
to kizamu kaze to kiero ware no akashi wa?
Vou
cravar meu castigo, e se minhas provas desaparecerem com o vento?
“kongou
ni kagayaku tsuki wa mou miaki sou na kurai nagametanda
“A
lua já está brilhando como um Vajra4, já a olhei
tanto que me cansei
ookami
ni mo naresou ni nai yami ni kuruisou da
é
pouco provável que me torne um lobo, [mas] parece que a
escuridão me enlouqueceu
kubi
wo kuraitai hakanaki zangai nemurase wa shinai kara
Pois
não posso dormir [nas] ruínas efêmeras, quero devorar pescoços
amaetai
toshigoro ga... sayonara kimi ni kuruisou da“
(n)aquela
idade em que queremos ser mimados… se
for a noite5,
parece loucura pra você”
dareshi
mo ga koufuku to bakari ni te wo nobashi yami ni hisomu oni to naru
torne-se
o monstro que espreita no escuro e estenda a mão para alcançar a
felicidade de todos
mou
sude ni owari wa umareta
o
fim já nasceu
katachi
wa rei ni umare shikyuu ni haimodori kusaru
uma
forma nula nasceu, rastejando de volta para o útero e apodrecendo.
kurikaesu
tabi kuzure te yuku omaera no men ga
Toda
vez que [isso se] repetir, o rosto de vocês entrará em colapso
mimi
wo kudaku shinsou ni wa dare mo fure ya shinai
ninguém
proclama a verdade que esmaga os ouvidos
yokuatsu
sareta ishi
a
intenção é reprimida
tsumi
wo aganai inochi yo sare
A
vida que liberta os pecados! Deixe-a
hakanaki
ANCHITEZE musebinaku chi e to
A
antítese transitória, numa terra de lágrimas
TEZE
ni hitaru kyouyuu ni hone wo umete
enterrando
ossos imersa numa tese compartilhada.
yuuutsu,
seou mama zaratsuku tsunami ni
Como
se sobrecarregada de melancolia, [como um] tsunami violento
saraware
nigai namida to warau
que
lava os risos e as lágrimas amargas
kachi
wo midasezu kubikukuri juusan kaidan
Não
encontrando o valor, enforca-se no 13º degrau
te
wo tataki nareau hito
as
pessoas se acostumam e aplaudem
memeshii
shisou ni mazari kizutsukeru
[fazendo
com que] as feridas sejam associadas a pensamentos afeminados
sonna
kimi ga nan da ka kanashisugiru
[sendo
que] de alguma forma esse você está muito triste
chi
shibuku honnou fumitsubishi
o
sangue espirra, o instinto, esmagado
shi
wo kataru
[ao]
conversar sobre morte
gou
to ayumu tenchi saketa ware kono mi to sakebu
Viverei
com meu carma, gritarei com esse meu corpo que separa o céu da terra
batsu
to kizamu kaze to kiero ware no akashi wa?
Vou
cravar meu castigo, e se minhas provas desaparecerem com o vento?
mimi
wo kudaku shinsou ni wa dare mo fure ya shinai
ninguém
proclama a verdade que esmaga os ouvidos
yokuatsu
sareta ishi
a
intenção é
reprimida
tsumi
wo aganai inochi yo sare
A
vida que liberta os pecados! Deixe-a
ore
ga aku de aru ga yue ni
[se]
eu sou mal, [então]
ikiru
imi sae tsumi na no ka?
até
mesmo o sentido da vida é um crime?
Notas
do tradutor:
(↑↓)
Versos invertidos da ordem original pra fazer mais sentido em
português.
Partes
em itálico são adaptações.
Partes
entre [] são adições minhas para fazer os versos soarem mais
naturais em português.
¹
Reza a lenda que “VINUSHKA” é uma palavra inventada de origem
russa que foi criada a partir de “вина” (vina
= culpa), sendo que o sufixo -shka serve
pra ser como um diminutivo, num tom de intimidade
(sendo “pequena culpa” uma tradução
possível).
(eu
não tenho nem ideia de como se fala russo, e o google tradutor não
foi gentil comigo quanto a essa palavra, não posso afirmar que isso
é verdade)
Uma
pessoa russa do tumblr diz que esse sufixo transmite “um tom
muito especial de profunda, mas silenciosa tristeza, desespero e, o
mais importante, aceitar o fato de que isso aconteceu. [...] Não é
apenas culpa (por um erro ou crime que você cometeu) ou culpa (como
um sentimento dentro de você), é uma culpa que você terá que
conviver pelo resto da sua vida.” (sendo alguns sinônimos como
“penitência” ou “lamentação”
adaptações possíveis levando em consideração que isso seja
verdade e/ou esteja correto).
Todas
as fontes que eu encontrei citam uma entrevista que o Kaoru deu pra
uma revista chamada “VerdamMnis” porém eu não achei
nenhuma transcrição, scan ou link pra conferir se é verdade (e de
que maneira isso foi dito). A fonte mais confiável que eu achei que
falava disso foi o wikipédia (Link> Wikipédia:
Uroboros (Álbum))
Também
há pessoas que dizem que vem do hindu e significa “enganador”
(mas essa teoria é bem menos popular).
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²
“陰りに身を焼かれ”
(kageri
ni mi wo yakare) pode ser traduzido literalmente como
“queimando nas sombras” porém ambas
as palavras têm sentidos figurados, sendo que 陰り
(kageri)
aparece no jisho.org como “sombra ou nuvem (por exemplo, na
felicidade de alguém)” e 身を焼かれ
(mi
wo yakare) como “queimar (com ciúme, desejo, etc.)”
No
caso, o sentido deve ser algo como “entregar-se as chamas que o
consomem em suas sombras” sendo as “sombras”, possivelmente,
sentimentos como culpa, ou de se colocar abaixo de algo/alguém em
alguma situação (sentir-se menor, ou diminuir alguém). (tem uma
gíria em inglês que é “throw shade” que é usada quando uma
pessoa é maldosa com outra, o sentido é de hostilizar alguém).
Então,
no contexto da estrofe, ele se pergunta “aqui é o fundo?” (o
fundo do poço, talvez) e então diz “queimando nas sombras”,
possivelmente dizendo que esse “fundo” (do poço) o consome como
fogo nas sombras de seus sentimentos obscuros.
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³
Dogra Magra “é
um romance que foi publicado pela primeira vez em 1935, de Kyusaku
Yumeno, quase sem aclamação. Essencialmente, desapareceu por quase
trinta anos. Foi redescoberto pelo filósofo Shunsuke Tsurumi, que
comparou Yumeno a Kafka e Poe. Desde então, tem sido considerado um
clássico da
literatura japonesa
moderna, embora tenha sido traduzido apenas para francês e chinês.
É um romance policial (mais ou menos), mas também é sobre o que
pode ser melhor descrito como aberração
psicológica. Um
dos personagens principais (que pode estar morto quando o romance
começa) sustenta que todos,
sem exceção, são
um tanto perturbados mentalmente
e esse romance faz o possível para ilustrar esse ponto, pois o
personagem mais normal do livro é um homem que esqueceu seu nome e
identidade e quem pode ou não ter participado de um ou mais crimes
graves.” (Extraído e traduzido de TheModernNovel.org
onde há uma resenha
completa sobre o livro, um texto muito interessante, por sinal)
Esse
mesmo texto diz que “dogra magra” é o título de um livro
escrito por um jovem brilhante da ala psiquiátrica da Universidade
de Kyushu, e que após uma pesquisa detalhada, foi descoberto que
Dogra Magra era uma palavra usada em Nagasaki usada para indicar um
encantamento religioso usado pelos padres cristãos, talvez
semelhante ao nosso abracadabra.
(leia também no wikipédia: Kyusaku
Yumeno)
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4
Um vajra é uma arma usada como objeto ritual para simbolizar as
propriedades de um diamante (indestrutibilidade) e um raio (força
irresistível); a palavra vem do sânscrito e tem esses dois
significados. (Wikipédia: Vajra)
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5
aqui está escrito 小夜なら
(sayo
nara = noite + nara) onde “nara” é uma partícula condicional e
“sayo” significa “noite”. Pra mim não fez sentido, então eu
imaginei que fosse um jogo de palavras, ou um erro de transcrição
de quem upou a letra na internet.
Se
for pra traduzir o verso todo como um jogo de palavras, pode ser algo
parecido com “(N)Aquela idade em que queremos ser mimados…adeus,
parece loucura pra você”; onde “sayonara” pode ser 1) um
devaneio, onde o eu-lirico se despede da idade em que queria ser
mimado e teme que a pessoa com quem está conversando ache esse
devaneio uma loucura ou 2) uma condicional, onde ele teme que a
pessoa com quem ele conversa ache loucura que ele queira/precise ser
mimado (talvez como homem, talvez como uma criança, talvez os dois);
a estrofe pode ou não ter sentido sexual.
Pensamentos
e divagações do tradutor:
Ok,
acho que essa música foi lançada lá por 2008, então já devem ter
várias teorias sobre ela por aí, MAS, como a pessoa que me pediu
pra traduzir me disse que não conseguia entender a mensagem da letra
mesmo já tendo lido várias outras traduções na internet eu vou
dar aqui um pouco das impressões que tive enquanto traduzia a
música.
Quando
pesquisei pra achar a letra da música em japonês, esbarrei com 2 ou
3 reviews sobre ela, logo no título mencionando a 2ª Guerra
Mundial. Quando cheguei na metade da tradução e não vi nenhuma
ligação óbvia com guerras fiquei BEEEM perdida, mas deixei pra ver
os reviews só depois de traduzir pra não deixar que essas opiniões
afetassem a qualidade da minha tradução.
→
Pois
bem, terminei a tradução e tudo que pensava que era uma letra sobre
morte, mais do que isso, sobre renascimento, demonstrando não uma
morte física, mas provavelmente uma morte metafórica, a minha
leitura inicial da música foi de um personagem deprimido,
sentindo-se culpado por ser quem é, sentindo a culpa de viver em um
meio que não pode e não vai mudar. Um personagem com medo de ser
uma pessoa ruim, e terrivelmente incomodado com o meio em que estava
inserido.
Depois
disso fui ver os reviews e, basicamente, o que era dito (e o que fez
bastante sentido pra mim) era que a letra somada ao clipe pode
mencionar o sofrimento que as guerras causaram, em especial no trecho
onde a música fala sobre tese e antítese, contextualizando a
antítese numa possível guerra (ideias contrastantes) mas concluindo
que na verdade ambos os lados da moeda estão presos na mesma “tese”,
ou usando um termo mais adequado, presos na mesma “situação”,
onde os dois lados enterram seus mortos (ossos) e lidam com o luto e
as moléstias que uma guerra pode causar.
Também
é interessante apontar a citação à Dogra Magra (sem
querer dar um spoiler de uma obra dos anos 30) onde, durante
a trama, o protagonista descobre ter participado de crimes graves
depois de acordar com amnésia, deixando no ar o mistério de que
talvez ele tenha sido levado a acreditar nisso para algum tipo de
experimento.
Sendo
que, talvez, essa referência seja pra ilustrar que a guerra foi
um evento causado por loucos. Questionando-se se em algum dia “a
hipocrisia vai vir novamente e levá-los?”; levá-los para uma
situação parecida, onde a loucura e a violência tome conta deles.
→
Por
fim, tem um trecho que enquanto pesquisava vi que muita gente não
entendeu, a parte que é uma citação e fala sobre se tornar um
lobo. Essa parte é explicada na estrofe seguinte “torne-se o
monstro que espreita no escuro e estenda a mão para alcançar
a felicidade de todos”; uma pessoa que sentindo que sua escuridão
a enlouqueceu e que o brilho da lua não a pode salvar
(transformando-a num lobo = uma criatura selvagem, sem sentimentos),
sente-se insatisfeito com suas “ruínas efêmeras”, então quer
mudar as coisas ao “devorar pescoços” (tal como um lobo/monstro
faria), quer se tornar um monstro pra que, talvez, comportando-se da
mesma maneira que julga ser o comportamento dos que ele critica (uma
sociedade cruel, ou soldados desumanizados em uma guerra), ele
alcance alguma felicidade. Mas isso deve parecer loucura pra você.
Sabe,
você que está lendo isso não precisa sair por aí dizendo que COM
CERTEZA essa é uma música sobre a guerra, como eu disse antes, dá
pra ser sobre como a cabeça da gente as vezes entra numas sombras
muito loucas e faz que a gente reflita sobre como nós e as pessoas
ao nosso redor podem ser más.
Provavelmente
existem interpretações diferentes por aí além das que expressei
aqui.
Música
é uma coisa linda porque nos abre a possibilidade de múltiplas
interpretações.